terça-feira, 22 de setembro de 2009

Repúdio ao Machismo dentro do movimento LGBT

Uma breve observação: Absurdo esse tipo de comportamento dentro do movimento social LGBT, que deve ser o primeiro a repudiar o machismo. A homofobia é fruto da sociedade machista, que considera o homem homossexual inferior ao heterossexual por se "rebaixar" ao que se entende por um processo de "feminilização" e discrimina a mulher homossexual por ousar viver sua vida sem se relacionar sexualmente com um homem, com quem possa reproduzir. Ver um grupo do movimento LGBT reproduzir o machismo, é uma lástima, é imperdoável e tal atitude deve ser ferozmente combatida, para que não haja prejuízo ao movimento a título regional, nacional e mundial. Passemos adiante esse Manifesto de Repúdio até que haja resposta institucional do referido grupo.
H.

Carta de Repúdio


Quando peguei o folder da 9ª Parada GLBT de Madureira quase não acreditei no que li. O movimento organizador se intitula MGTT; ou seja, movimento DE e PARA gays, travestis e transexuais. Aonde tais organizadores colocaram o L de lésbicas? Provavelmente, no mesmo lugar onde eles colocam as demais mulheres: à margem!

É inadmissível e, mesmo, inacreditável que exista um grupo marginalizado que marginaliza outro. Como explicar tal contradição!?

Nós, mulheres, temos lutado há gerações para transpor os obstáculos do patriarcalismo. Não faz muito tempo que, as mulheres, no Brasil, deixaram de seguir as ordens do pai, do irmão mais velho e do marido. Não faz muito tempo também que, nós, logramos o mundo do trabalho em funções tradicionalmente masculinas. Foram séculos de obscurantismo e confinamento familiar.

No entanto, sentimos que, algumas arestas ainda precisam de ser aparadas. O sexo, por exemplo, é um tabu. O homem pode se masturbar, pois é normal. Mas, na mulher isto ainda é visto com desconfiança. Falar de sua orientação sexual, então? Nem pensar se ela é lésbica! Mulher tem de procriar!

Portanto, a mulher e, principalmente, a mulher lésbica já têm muito ao que se contrapor e o que conquistar de direito; pois, o machismo e o sexismo ainda fazem vítimas em pleno século XXI. Contudo, apesar das enormes batalhas por nós travadas, nos deparamos, vez ou outra, com formas disfarçadas de discriminação por gênero.

Enquanto mulher-lésbica possuo longa vivência – ou melhor: sobrevivência – entre preconceituosos machistas e sexistas. No entanto, choca-me descobrir que, entre nós, os homossexuais, há pessoas que discriminam os seus pares.

Nós homossexuais temos sofrido por séculos para conquistar direitos que, deveriam nos ser oferecidos assim que nascemos. Contudo, somos forçadas e forçados a lutar por tais direitos. Para amarmos, plenamente, uma pessoa do mesmo sexo, temos de fazer Termo de Parceria como se fôssemos abrir uma empresa. Os homossexuais pobres, por exemplo, não têm direito aos programas assistencialistas do governo – não que ache estes programas bons, mas não devem ser para todos que deles necessitam?

Agora, ainda, vejo-me obrigada a contestar um movimento que possui, entre seus militantes, atores tradicionalmente discriminados. “Se não fosse trágico, seria cômico”! Como entender que, possa haver intolerância sexista neste grupo?

Peço que, este movimento explique a sua razão (se é que pode haver razão para tal atitude?).. E, peço desculpas aos bissexuais, que também não estão contemplados por este movimento, pela minha falta de defesa.

Por fim, anexei, a esta carta, cópia do panfleto da citada Parada de Madureira a fim de confirmar o que digo.


Sem mais e, no aguardo de resposta.


Obs: infelizmente, até o momento, não consegui o e-mail do grupo citado ou tampouco de sua presidente. Portanto, peço que alguém encaminhe esta carta ao MGTT e avise-me assim que possível. Caso não chegue até o destinatário em tempo oportuno, estarei na Parada para entregá-la pessoalmente.


Eliza H. Martins

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